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Caro Google, transtornos alimentares precisam ser levados a sério

  • Beatriz Klimeck
  • 12 de jul. de 2017
  • 3 min de leitura

Ilustração por Gabienna Nolasco


Há cinco anos, pessoas que pesquisam a palavra “suicídio” em diferentes línguas no Google se deparam com a seguinte mensagem:



Pouco importa se a busca é por: “Kill myself” (me matar), “painless way to die” (formas indolores de morrer) ou “suicidal thoughts” (pensamentos suicidas). De uma forma ou outra, diferentes termos chegam ao mesmo resultado: o telefone da ONG de combate ao suicídio de diferentes países, que varia dependendo da localidade em que você faz a pesquisa.


No Brasil, em parceria com o Centro de Valorização da Vida (CVV), digitar “como me matar”, “suicídio” ou “como se suicidar” resulta no número 141. “Precisa de ajuda?”, é a mensagem que aparece na página em português. Os dois primeiros links que seguem, apresentam títulos que parecem matérias que incentivam o ato, mas, ao clicar, revelam-se textos de apoio e auxílio.


Infelizmente, esta não é a mesma realidade quando se pesquisa sobre transtornos alimentares. Esse tipo de busca apresenta centenas de resultados ensinando o passo a passo.


Pesquisando por “dicas de bulimia”, “pró-mia”, “ser anoréxica” “como miar” (vomitar), “miar emagrece”  — seja em português, francês, inglês ou espanhol —, não há qualquer indicação de que os resultados desta pesquisa poderiam ser problemáticos, nem quaisquer oferta de ajuda. Pelo contrário, os primeiros links são todos de sites e blogs com várias dicas de como prosseguir. Grande parte hospedado no Blogger (.blogspot), plataforma de blogs do Google.


Há um bom tempo, os anônimos “pró-ana” e “pró-mia” se tornaram populares na internet. Eu mesma me lembro de já ter acessado muitos desses sites, quando tinha cerca de 12 anos, e vejo que nada mudou ao acessá-los novamente, dez anos depois: “planos alimentares” de nf e lf (“no food” e “low food”), nos quais planeja-se dias com 100 calorias; metas de perda de peso gigantescas, enormes listas de exercícios aeróbicos diários; frases e imagens de auto depreciação; dicas para esconder da família; “como vomitar sem que ninguém escute”; “dicas para não desmaiar de fome”, etc.



No entanto, houve uma mudança desde que comecei a escrever sobre os resultados do Google Brasil para transtornos alimentares. Agora, ao digitar “anorexia” ou “bulimia”, surge uma caixa ao lado dos resultados com informações como sintomas e tratamentos. Mas preciso ressaltar que isso não é exclusividade desses transtornos: pesquisar por “tuberculose”, por exemplo, apresenta um quadro similar. O que indica que não houve nenhuma espécie de conscientização por parte do Google em relação a importância de ajudar pessoas que passam por estes problemas. Além disso, a compulsão alimentar, descrita no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V), não recebe um quadro para ela.


Pesquisas por “como ficar deprimido” ou “como desenvolver ansiedade” não são comuns. Diferentemente desses transtornos mentais, guias de como começar, manter e até mesmo morrer por anorexia ou bulimia estão espalhados pela internet.


Blogs que não são atualizados há anos aparecem nos primeiros resultados das buscas pelos termos, todos oferecendo dicas de como desenvolver um transtorno alimentar. São essas páginas que se tornaram responsáveis pelo adoecimento de muitas pessoas que desejam perder peso rápido e pretendem ganhar dicas de como esconder dos amigos e da família, aguentar mais tempo, enganar os médicos, etc.


Além disso, ativar o filtro “busca segura” do Google não bloqueia imagens que incentivam a auto depreciação. Crianças e adolescentes estão facilmente expostos a esses conteúdos, basta que digitem termos simples no campo de busca.


Diferentes redes sociais, como Tumblr, Instagram e Pinterest, já possuem maneiras de lidar com os resultados — e parecem estar buscando, cada vez mais, aprimoramento.


O Instagram, que anteriormente se limitava a bloquear as tags #anorexia e #bulimia e oferecer um link que descrevia o que é um transtorno alimentar, hoje permite ao usuário continuar vendo as publicações, mas informa o que aquele comportamento pode significar. Além disso, disponibiliza uma janela de apoio, com três opções: enviar mensagem a um amigo próximo em quem você confia, entrar em contato com uma linha de apoio ou um guia para "ajudar a si mesmo, criando um momento de tranquilidade". As orientações são desde respirar fundo até assistir vídeos de animais engraçadinhos.


Vale lembrar que transtornos alimentares matam mais que qualquer outro transtorno mental. Ainda não há uma fórmula para resolver isso e, certamente, há muito trabalho a ser feito, mas cada passo é importante — e esse é fundamental.


Caro Google, vamos conversar?


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