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Rupi Kaur: transformando dor em poesia

"Seu primeiro livro vendeu mais de um milhão de cópias e permaneceu no topo da lista de mais vendidos do New York Times por 40 semanas"

Nascida em 5 de outubro de 1992 em Punjab na Índia, Rupi mudou-se para o Canadá com sua família aos quatro anos de idade, formou-se pela Universidade de Waterloo em Ontário focando-se em retórica e escrita profissional e apesar de ter saído ainda criança de seu país de origem carrega uma ligação profunda com seu povo e principalmente com a história de luta das mulheres.

O povo sikh tem uma tradição cultural religiosa bastante forte e complexa. A crença é uma fusão do hinduísmo com o sufismo. É monoteísta (cultua apenas um deus) e quem ministra os ensinamentos na Terra são os gurus. Tem cerca de 25 milhões de adeptos pelo mundo e é considera a quinta maior religião.

Em 1984 ocorreu um grande massacre do povo sikh na Índia onde cerca de 8.000 pessoas foram mortas por um grupo anti-sikh que vingou a morte da primeira mulher chefe de estado no país: Indira Gandhi.

O primeiro livro de Rupi intitulado originalmente como Milk and Honey, e traduzido no Brasil como "Outros jeitos de usar a boca", faz referência ao fato de seu povo, (principalmente as mulheres) ter conseguido superar o massacre "suave como leite e mel".

A primeira grande vitória de Rupi foi sobreviver ao feticídio, prática extremamente comum em sua cultura. Os sikh ainda hoje consideram as mulheres seres "de segunda ordem", por isso há um grande número de abortos quando as mães descobrem que os fetos são de meninas. Os sikh acreditam que os homens são mais capazes de administrar as riquezas e honrar os ensinamentos da religião.

Rupi Kaur ganhou notoriedade no tumblr e no instagram onde começou a divulgar seus trabalhos. Sempre lidando com o corpo feminino com muita naturalidade, ainda nessa época ela chocou por divulgar em suas redes imagens de menstruação, que continua sendo um dos maiores tabus tanto na cultura oriental quanto ocidental.

Seu primeiro livro vendeu mais de um milhão de cópias e permaneceu no topo da lista de mais vendidos do New York Times por 40 semanas.

Os versos de Rupi são chocantes e os temas giram em torno do amor, mas principalmente de como lidar com a própria sexualidade e descrevem a violência do abuso sexual e psicológico sem rodeios. A diagramação é bem dinâmica e de fácil assimilação. Toda obra

é ilustrada com desenhos feitos aparentemente à mão.

A dificuldade da tradução foi contornada de forma competente. Rupi homenageia a escrita punjabi que é bem característica e não tem as mesmas regras de pontuação e letras maiúsculas e minúsculas do inglês e do português.

É uma leitura rápida e fluida, porém impactante. O livro é dividido em quatro momentos: a dor, o amor, a ruptura e a cura. Se antes não havia mercado para esse segmento, segunda a própria Rupi declarou quando tentaram lhe desencorajar a lançar seu trabalho, hoje ela se consolidou como um dos grandes nomes da poesia feminista contemporânea. Além de ter aberto caminho para outras escritoras, trouxe à tona o debate sobre como a mulher ainda é um ser socializado basicamente em cima da violência, independente da cultura.

Sobre a autora: Bah Bee Paiva tem 26 anos, é do Rio de Janeiro, poeta, feminista intersec e escreve em seu blog Eles pediram bee's e no blog TODAS fridas.

Fontes:

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