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Por que as mulheres viajam menos que os homens no Brasil?

  • Talita Ribeiro
  • 27 de mar. de 2018
  • 3 min de leitura

Pesquisa com mais 5.000 viajantes revela os principais desafios das brasileiras

Nós somos a maior parte da população no Brasil, estudamos mais tempo que os homens e, mesmo assim, de acordo com a Secretaria de Aviação, representamos apenas 43,6% dos passageiros em voos nacionais. E não é só no ar que somos minoria, durante o último ano, em todas as Sondagens do Consumidor realizadas pelo Ministério do Turismo, as entrevistadas demonstraram ter menos intenção de viajar que os homens.

Ao analisar esses dados, me questionei sobre as razões por trás dessa desigualdade. E, para tentar entender, elaborei uma pesquisa online junto com o Voopter, startup brasileira de comparação de passagens aéreas. A ideia inicial era traçar o perfil das viajantes brasileiras e descobrir os seus principais desafios, mas, graças a participação de 5.419 mulheres, os resultados revelaram bem mais que isso.

A falta de dinheiro e de tempo livre

As principais razões que impedem as brasileiras de viajar refletem questões muito maiores, 86,6% apontaram a falta de dinheiro como um impeditivo, o que não é uma surpresa, já que, de acordo com o IBGE, nós recebemos 25% menos que os homens. Levando em consideração o salário médio, essa diferença representa mais de R$ 7.000 por ano e, com esse valor, nós poderíamos fazer um belo mochilão pela América do Sul ou até mesmo passar alguns dias viajando pela Europa...

Mas antes, precisamos enfrentar um outro problema, já que 50,8% das brasileiras responderam que a falta de tempo livre as faz viajar menos. Isso é uma consequência direta da jornada dupla feminina, que, de acordo com o IPEA, garante 7,5 horas a mais de trabalho em casa para elas por semana. Pode até parecer pouco, para quem não vivencia essa realidade, mas nos rouba mais de 16 dias por ano, que poderiam ser muito bem aproveitados em uma praia do nordeste, por exemplo.

A maioria das mulheres não viaja a trabalho

Não são só as viagens a lazer que baseiam a desigualdade entre gêneros nos aeroportos do Brasil, 74,6% das brasileiras responderam que não viajam a trabalho. Levando em consideração que a maior parte delas tem entre 18 e 34 anos, faixa etária economicamente ativa, isso nos lembra que as mulheres ocupam apenas 38% dos cargos de chefia no país, de acordo com o IBGE, mesmo estudando mais tempo que os homens.

E, infelizmente, nós não estão sozinhas nesse cenário. Na Europa, as mulheres representam apenas 38% dos viajantes a negócios, de acordo com um levantamento feito pela empresa Wanup.

O desejo de viajar sozinha e o medo

Entre as mulheres que participaram da pesquisa do Voopter, 53,6% responderam que já viajaram sozinhas e 37,3% ainda não o fizeram, mas gostariam de viver essa experiência. Essa tendência também apareceu nas Sondagens do Consumidor feitas pelo Ministério do Turismo em 2017, a porcentagem de mulheres interessadas em viagens solo era sempre maior que a de homens, às vezes até o dobro.

O maior desafio para as viajantes é vencer o medo que, neste caso, é uma questão de gênero, já que 45,7% delas têm receio de viajar apenas por ser mulher. Depois aparece a falta de confiança na segurança pública dos destinos, em 29,7% das respostas, seguida pelo fato de não saber falar outras línguas, um impeditivo para 21,9%.

Fazer um levantamento como esse é uma forma de questionar a desigualdade e também de encorajar outras mulheres a se aventurar pelo mundo. Apesar do medo, 73,4% das brasileiras nunca sofreram nenhuma situação de risco durante uma viagem. E todas as entrevistadas do projeto Viaje, Mulher! - que nasceu a partir da pesquisa -, consideram viajar uma forma de se empoderar e conhecer melhor.

Sobre a autora: Talita Ribeiro é jornalista especializada em turismo.

 

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Fontes:

http://www.dadosefatos.turismo.gov.br/sondagens-conjunturais/sondagem-do-consumidor-intenção-de-viagem.html

http://www.aviacao.gov.br/obrasilquevoa/

https://www.ibge.gov.br/estatisticas-novoportal/multidominio/genero/20163-estatisticas-de-genero-indicadores-sociais-das-mulheres-no-brasil.html?=&t=o-que-e

http://www.ipea.gov.br/retrato/

http://voopter.com.br/viajemulher

https://www.wanup.com/loyaltycentre/en/wanup-european-travel-loyalty-report/

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