Mulheres jornalistas se mobilizam contra assédio na profissão
- Bruna Leão
- 21 de jun. de 2016
- 3 min de leitura

Uma repórter do portal IG denunciou o cantor MC Biel por assédio no começo do mês. Segundo reportado, Biel havia passado o seu celular pra jornalista – que até agora não quis se identificar – para que ela atendesse durante suas entrevistas. Ela atendeu um telefonema, dizendo que o cantor não poderia falar no momento. Após, Biel pegou o telefone e a chamou de “cuzona”. Numa conversa ao telefone com um amigo, disse que a jornalista era “ramelona” mas mandou “dar um desconto, porque ela é gostosinha”. Além disso, durante a coletiva de imprensa, disse à repórter que se a “pegasse” a “quebraria no meio” porque ela era “gostosinha”. A jornalista registrou boletim de ocorrência na 1ª Delegacia da Mulher de São Paulo.
Ocorre que semanas depois do ocorrido e após ter prometido "todo tipo de assistência" à repórter, o IG a demitiu:
A mensagem que se passa é clara: denuncie um assédio e perca seu emprego. Não por menos os casos de assédio nos locais de trabalho – e fora dele – são subnotificados.
O caso poderia fazer com que outras jornalistas que passaram por situações parecidas se calassem, mas o que ocorreu foi justamente o contrário. A demissão da repórter foi o estopim para que outras jornalistas se mobilizassem contra o assédio: “Soubemos da demissão injusta da jornalista, que tem apenas 21 anos, o que nos revoltou profundamente. Eu e minha colega, também jornalista Janaina Garcia, decidimos nos mobilizar”, diz Thais Nunes, organizadora da campanha #jornalistascontraoassedio.
Em menos de 48 horas, cinco mil mulheres se uniram à causa: “Isso demonstra como nossa profissão é machista”, continua Thais. “O jornalista em si tem o costume de noticiar as mazelas da sociedade. Mas nunca olha para si. É um tabu”, diz.
As discriminações de gênero enfrentadas pelas jornalistas vão desde os salários menores se comparados aos dos homens ao descrédito. O machismo se revela tanto nas relações com os entrevistados – as chamadas fontes – quanto dentro das redações. Exemplos disso, segundo Thais, são os famosos “vamos tomar um café depois te passo a informação”, “você é bonita demais, não consigo me concentrar pra responder”, “você precisa sair com o chefe para se dar bem”, “você é nova demais para entender”, “os homens ficam com as matérias mais sérias, as mulheres com as de bicho, moda”, entre outras, conforme relatado no vídeo que acompanhou o manifesto que deu início à campanha. Confira:
A campanha já está repercutindo nas redes sociais, a partir da hashtag #jornalistascontraoassédio. Jornalistas estão aderindo à mobilização e compartilhando relatos pessoais de assédio no local de trabalho e outras pessoas estão demonstrando apoio à causa, bem como à jornalista demitida pelo IG.
A campanha não diz respeito apenas à repudiar a atitude tomada pelo IG, mas tem um propósito bem mais abrangente, segundo Thais Nunes: "A atitude do IG é prejudicial não só para a estagiária demitida, mas para todas as jornalistas. É uma punição em dobro e que abre precedentes. Mostra também o quanto as redações são machistas. A adesão da campanha mostra isso. Temos mulheres jornalistas sendo assediadas todos os dias, com medo de tornar essa violência pública e perder o emprego. A proposta da mobilização é reverter esse cenário. O machismo é epidêmico no jornalismo e queremos reverter esse quadro".
Kommentare