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O dilema da amamentação

  • Wanda Karine Santana
  • 12 de fev. de 2016
  • 3 min de leitura

A maioria da população está ciente sobre a orientação do Ministério da Saúde, Sociedade Brasileira de Pediatria e Organização Mundial da Saúde sobre os benefícios da amamentação, tanto para a mãe quanto para o bebê. No entanto, mulheres são bombardeadas com orientações de alguns pediatras e propagandas de grandes companhias, com anúncios milionários ressaltando a qualidade e segurança das fórmulas e suplementos alimentares para crianças.


Fugindo do aspecto capitalista das grandes indústrias alimentícias na busca incessante pelo lucro, hoje prefiro focar em um dos sujeitos do processo da amamentação: a mulher.


A romantização da maternidade e seus efeitos sobre os ideais da mãe perfeita recaem sobre a mulher, lhe infringindo a abnegação e sujeição às imposições sociais, tornando o seu papel coadjuvante, e não protagonista deste processo. A mãe, que deseja muito amamentar o seu filho, é ignorada, e padece em seu inferno pessoal.


A mulher que, por algum motivo, deixa de amamentar o bebê, é demonizada, sem que tenha algum auxílio ou orientação, recebendo a alcunha de egoísta, preguiçosa ou relapsa. Onde já se viu, uma mulher deixar de seguir a natureza de amamentar a sua cria? Aquelas que ousam amamentar, igualmente são recriminadas por amamentar em público, como o caso de uma mulher que foi assassinada por uma paramilitar simpatizante do ISIS na Síria, por cometer ato indecente e mostrar suas mamas em público.


Muitas mulheres, no início da amamentação, adquirem fissuras mamárias, que são extremamente dolorosas. Sem a orientação correta, além da dor excruciante, estas fissuras podem evoluir para uma mastite, que é uma infecção grave nas mamas. Como se não bastasse a dor, a culpa lhe assalta ante à possibilidade de deixar o bebê com fome, pois têm a consciência que, naquele instante, ele depende única e exclusivamente dela. Neste período, mãe, sogra, tia, madrinha, vizinha e cunhada surgem, e na ânsia de ajudar, tornam esta tarefa aparentemente simples numa Via Crucis, impondo e reforçando a obrigação feminina de amamentar.


Muitas mulheres, ao fazerem seu pré-natal na rede de saúde suplementar, não têm seus anseios e dúvidas atendidos pelo profissional médico. Passado o parto e o puerpério imediato, pula-se para as consultas pediátricas periódicas, que têm como foco o bebê, e se este não puder ser amamentado, não importando o nível de dificuldade, imediatamente e sem objeção, é recomendado o aleitamento artificial, com fórmulas caras, muitas vezes fora da realidade econômica da mulher brasileira. Este processo doloroso representa um fracasso para a mulher, que se julga incapaz de alimentar seu filho, fazendo-a padecer, sozinha e silenciosamente.


Esta falha grave poderia ser evitada se, no pré-natal, a gestante tivesse o acompanhamento e preparação de um profissional da Enfermagem para tanto, já que este tem formação e habilidade para conduzir a gestante, puérpera e lactante neste processo. Se a mãe tiver interesse em amamentar, e tiver um profissional para que a oriente e conduza neste processo, criando uma relação de confiança com este, certamente obterá sucesso. Não é incomum observarmos, nos grandes centros urbanos, o grande número de mulheres que interrompem a amamentação por encontrarem dificuldades que seriam facilmente resolvidas com a intervenção de um Enfermeiro.


Neste sentido, a saúde pública, através do Sistema Único de Saúde, na atenção primária, têm capacitado seus profissionais para este intento. A realização de atividades e oficinas de gestantes coordenados por profissionais da Enfermagem, na Unidade de Saúde em que a mulher é vinculada, dão segurança e as empoderam, tendo como efeito a obtenção do sucesso no processo de lactação.


Apesar de termos consciência da fragilidade e vulnerabilidade de uma criança neste estágio inicial de sua vida, é de suma importância que seja destinado o devido cuidado para a mulher, dando-lhe instrumentos para que adquira confiança no exercício de uma maternidade segura e tranquila.









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