top of page

Magrofobia sufoca: o inferno de quem vive abaixo do peso

  • Aline Xavier
  • 5 de nov. de 2015
  • 3 min de leitura

sereia gorda de cabelos longos

Ilustração por Raquel Thomé.


Ser magro não é fácil! Pra alguns de nós viver pode se tornar uma cascata de cobranças incessantes. E elas vêm de todos os lados: Da família, do boy, do chefe, de desconhecidos na rua. A pressão é tanta que às vezes você pensa não pertencer a esse planeta, acredita que é uma aberração, um tipo de alienígena, qualquer coisa...Mas também sabe que não é igual a das pessoas gordas, pois o mundo foi projetado sem levar em consideração o seu tipo físico.


Já perdi a conta de quantas vezes fiquei sobrando na balada, enquanto todas as minhas amigas gordas, na casa dos cem quilos, se davam bem e pegavam os gatinhos mais cobiçados. “Cinquenta e um quilos? Sinto muito, mas é que... sabe? Eu não curto, é questão de gosto. Só acima de oitenta e sete pra ter chance comigo, infelizmente. Você é legal, mas só como amiga. Não me leva a mal, não”.


Magra só é abordada no fim da festa ou quando um cara perde uma aposta pros colegas dele, que ficam rindo no cantinho escuro enquanto ele faz o “sacrifício” de pagar a aposta e falar contigo. E quando ele chega é impossível não saber, pois é um cara bonito que nunca ficaria com ela sóbrio. Quando a esmola é grande, os amigos dele assistem ao show.


Uma das coisas mais difíceis na vida de um magro é se alimentar em público. Se a opção escolhida for salada, me recriminam: “É por isso que tá magra”. Se encaro um hambúrguer insano de quase vinte centímetros de altura, dizem: “Tá vendo? Não se alimenta direito! De que adianta um sanduíche sem uma coca pra acompanhar?”. Ou então, quando recuso repetir o prato na casa da sogra: “Menina, se você continuar assim, vai acabar emagrecendo mais e o meu filho não vai te querer. Mulher tem que ser gorda, é assim que eles gostam. Homem que não encontra carne em casa acaba por procurar na rua, se cuida”.


É super complicado para uma mulher magra sair pra comprar roupa. Das duas uma: ou você tem que estar num dia bom, ou sair com um dinheiro extra, porque a escassez é enorme e os preços exorbitantes ou prepara o espírito pra frustração, amiga, por que de cada dez lojas que entro, nove não têm o que desejo. Mas não é preciso visitar todas elas, em pelo menos quatro, os vendedores olham de forma constrangedora, como se tivessem nojo da minha existência, e eu, então, me afasto, pois entendi o recado. Em no mínimo três, antes de completar um “boa tarde” e dizer se desejo algo pra mim ou pra presente, deixam claro que não possuem o 36, mesmo não tendo eu mencionado o tamanho do meu manequim.


Quase sempre vou a lojas de tamanhos especiais, as “Small Size”. E quando finalmente encontro algo que me sirva (não necessariamente algo que caia bem, por que aí também é querer demais) me sinto obrigada a levar, já que eu não vou achar nada que atenda às minhas necessidades tão cedo, independentemente se o modelinho que estamos falando seja algo descolado ou um vestido de pano de pijama de vó. Tenho que dar é graças a Deus de não voltar com as mãos vazias pra casa.


Eu pergunto: “Quanto custa essa blusa de alcinha verde-limão com bolinhas lilás e um babado azul, mesmo?”. “Cento e setenta e nove e noventa, com cinco por cento de desconto à vista e sete e meio de acréscimo a prazo” é a reposta que eu tenho. Concluo: Não é fácil ser uma magra fashion.


Mas o pior de tudo, sem sombra de dúvidas, é ter o seu corpo medido e avaliado por partes, como um pedaço de carne suína no matadouro. “Esse braço? Tá fino demais, parecendo um graveto. Dá até pra confundir com a panturrilha”. “Essa barriga pequena? Que nojo!”. “A bunda magra? Cruzes! Como é que alguém tem coragem de comer isso?”.


Na cabeça dos outros, mulher magra ou é virgem ou é arrombada. Porque se encontrar um guerreiro, tem que se agarrar à oportunidade, não pode deixar passar não. Quem é ela pra sequer pensar que tem poder de escolha?


A magrofobia oprime, causa depressão, pode levar ao suicídio e causa infelicidade crônica, além de diversos transtornos de imagem. Pense nisso, gordo, antes de zombar da tia seca, da prima que é modelo, do irmão magrelo. Com seus achismos e piadinhas de mau gosto, você pode destruir uma vida em questão de segundos. Já imaginou se fosse o contrário?


Texto orginalmente publicado no Facebook e revisado por Flávia Hill Rezende.

Yorumlar


Comentários

leia também:

bottom of page