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Backlash e guerrinhas virtuais

  • Bruna Leão
  • 4 de nov. de 2015
  • 3 min de leitura

Esta semana, algumas páginas feministas e LGBT foram derrubadas após denúncias em massa no Facebook. Entre elas, estão as páginas “Feminismo Sem Demagogia” e “Moça, você é machista”, duas das maiores páginas feministas no Facebook; a página da Jout Jout, que faz vídeos com temas relacionados ao feminismo; “Cartazes e Tirinhas LGBT,” entre outras.


Os ataques seriam uma resposta de páginas como “Orgulho de ser Hétero” e a de uma tal de Luana, que foram derrubadas por violações às políticas do Facebook.


O que as páginas mencionadas tem a ver com isso? Aparentemente, nada. Apenas pagaram o pato.


Coincidentemente - ou não, já que feministas são alvos de ataques sempre, - a professora universitária e blogueira Lola Aronovich também tem sofrido uma perseguição criminosa por parte de haters virtuais. Chegou a ser criado um site falso em seu nome, com postagens absurdas, cujo único intuito seria difamá-la. Em um “post desabafo” no seu blog, ela explica a história:


“Eu percebi que meu blog, o único que tenho, que é este aqui, nunca vai alcançar este nível de divulgação. Duvido que algum blog feminista viralize desse jeito. Mas pra viralizar site fake difamando feminista, é um instantinho. Basta um ou dois reaças com tuítes e páginas no FB mais movimentadas e pronto, um site falso defendendo ideias que não têm nada a ver com as suas (mas que leva o seu nome) fica mais popular que o seu blog, aquele a qual você se dedica há 8 anos”.


Esses acontecimentos podem ser englobados em um fenômeno chamado blacklash, ou seja, uma reação conservadora que se dá toda vez que um movimento minoritário avança de alguma forma. No caso, essa reação se deu devido ao levante feminista que tem ocorrido recentemente. Milhares de mulheres foram às ruas semana passada em atos contra o presidente da Câmara, o deputado Eduardo Cunha, e seu desastroso projeto de lei 5.069/13, entre outras pautas levantadas. Além disso, o feminismo virou tema amplamente debatido depois do Enem conter uma questão citando a filósofa Simone de Beauvoir e ter como tema de redação “a persistência da violência contra a mulher em nossa sociedade”. A campanha #AgoraÉQueSãoElas tem levado colunistas homens a ocuparem por uma semana um lugar na plateia enquanto o palco, neste caso, suas próprias colunas, é dado à mulheres.


A Lola é constantemente alvo de ataques machistas porque tem um dos blogs feministas - senão o blog feminista - mais acessados no Brasil. As outras páginas também foram derrubadas por veicularem conteúdos progressistas, mas essa reação conservadora existe em todos os lugares. Na internet, considerada uma extensão da vida real, não poderia ser diferente. Falar sobre feminismo significa mexer com estruturas muito bem consolidadas na sociedade, e isso não acontece sem haver também um movimento contrário que tenta manter o status quo.


Ao contrário do que acreditam os autores de tais ataques, o feminismo não vai acabar caso páginas do Facebook ou sites feministas caiam. O feminismo não se restringe a esses grupos específicos e nem poderia ser reduzido ao ativismo virtual. O feminismo não se restringe à internet ou a uma feminista isolada. Portanto, essas ações são inócuas, uma tentativa de silenciamento que não irá funcionar.


Os outros tipos de ataques, aqueles direcionados às mulheres como a Lola, com ameaças de morte, estupro, exposições, difamações, sem dúvida já entram na esfera criminal. Talvez esses ataques resultassem em um recuo no posicionamento dessas mulheres, mas o que vemos de feministas como a Lola e muitas outras vítimas de haters do tipo é que continuam resistindo bravamente apesar de ameaças à sua integridade física e psicológica.


O que podemos oferecer, no momento, é todo nosso apoio e solidariedade à Lola e às administradoras das páginas derrubadas recentemente e demonstrar, aqui, nosso repúdio a esses ataques machistas. Queremos também passar o recado a quem discorda do nosso posicionamento: vocês não nos intimidarão.



planta nascendo em meio a uma fresta de concreto


*Texto revisado por Clara Madrigano e Priscila Portela Costa.



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