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Porque dizer "é a minha escolha" não necessariamente faz da sua escolha feminista

  • Ronnie Ritchie, tradução de Elen Canto
  • 27 de ago. de 2015
  • 2 min de leitura

- Posso usar batom e ser feminista ao mesmo tempo! É minha escolha, e isso é feminismo!

Com o advento do “feminismo de escolha”, essa frase virou um lugar-comum entre feministas. Porém, embora a primeira frase esteja correta, a segunda... nem tanto.

A estrada é uma imagem bastante usada para representar as escolhas da vida...

...mas fazer escolhas é mais como velejar pelo mar.

Há correntezas, calmarias e tempestades, e elas afetam a dificuldade de escolher o caminho para se chegar a um lugar.

(Placas: discriminação, vergonha, afirmações)

Esses elementos representam diversos fatores sociais, inclusive a socialização de gênero, que é o modo como aprendemos a enxergar as pessoas a nossa volta através das lentes do gênero.

Por exemplo, uma mulher escolhe se vestir de maneira feminina.

Mas ela não usa maquiagem, porque acha desconfortável e nada prático. Por isso, só passa hidratante e brilho labial.

Colegas sempre comentam que ela está com uma aparência cansada e até perguntam sobre sua saúde. Seu currículo lhe rende muitas entrevistas, mas ela ainda tem dificuldade de encontrar emprego.

Assim, ela começa a usar maquiagem. Um pouquinho de base e um rímel já fazem a diferença. As pessoas começam a comentar que ela está bonita, com aparência saudável. Ela arruma um emprego.

Ela escolhe começar a usar maquiagem, mas não tanto por desejo próprio, e sim para melhorar sua situação.

Para quem é marginalizada de outras maneiras, como negras, transexuais, gordas, mulheres queer e com deficiência física, tentar enquadrar-se nos padrões sociais de feminilidade não se trata apenas de escolher o que mais lhe atrai, mas é também um método de sobrevivência.

- Então a maquiagem sempre vai servir ao patriarcado?

Nem sempre.

A maquiagem também pode ser um método de autoexpressão.

Há comunidades de pessoas que se conectam por meio da apreciação da maquiagem como uma expressão radical e artística.

As participantes representam e apoiam umas às outras, no lugar de figuras patriarcais.

Muitas vezes esses grupos são pressionados por misóginos porque não usam maquiagem do “jeito certo”, que é agradar aos homens com uma beleza convencional.

- E aí? Uso ou não?

A questão não é usar ou não usar.

Não é errado usar maquiagem só para ter mais chance de arrumar trabalho. Mas é importante reconhecer quando a escolha é feita, em parte, por causa da influência do patriarcado, não do feminismo.

A escolha de usar maquiagem resulta, na maioria das vez, de pressões e marginalizações sistêmicas e culturais, não da escolha individual. Ao alegar que as escolhas individuais são feministas, em vez de entender como a opressão atua em nossas escolhas, basicamente estamos silenciando as experiências de opressão que não são “óbvias” para nós.

Com esse silêncio, validamos a continuidade dessa opressão. E quem gostaria de fazer essa escolha?

- Então, eu posso continuar usando batom, mas preciso refletir sobre o motivo e apoiar as pessoas que não querem se maquiar!

Agora você está chegando a algum lugar!

* Originalmente publicado no site Everyday Feminism.

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