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"Não tenho mais medo": 35 mulheres contam histórias de abusos cometidos por Bill Cosby, e

  • Noreen Malone e Amanda Demme
  • 28 de jul. de 2015
  • 17 min de leitura

Artigo publicado originalmente na New York

Mais coisas mudaram nos últimos anos para as mulheres que alegam estupro do que em todas as décadas desde que o movimento de mulheres começou. Pense na prova de outubro de 2014, quando um membro da audiência de um programa do Hannibal Buress na Filadélfia fez o upload de um vídeo do comediante falando sobre o Bill Cosby: "Ele chega na TV, 'puxem suas calças, negros... eu posso agir com superioridade porque tenho um sitcom de sucesso'. É, mas você estupra mulheres, Bill Cosby, então diminui um pouco sua loucura... acho que só quero fazer com que seja ao menos estranho para vocês assistirem a reprises do Cosby Show. A imagem do cara, em grande parte, é uma porra de uma imagem de Teflon. Eu faço essa ponta no palco, e as pessoas pensam que eu estou inventando... Essa merda é inquietante". A cena viralizou rapidamente, com consequências irreversíveis e calamitosas para a reputação de Cosby.

PATRICIA LEARY STEUER, 59. LINDA KIRKPATRICK, 58.

Anos em que afirma ter sido abusada: 1978 e 1980 Ano em que afirma ter sido abusada: 1981

Talvez a coisa mais chocante não fosse que Buress tenha chamado Cosby de estuprador; foi que o mundo realmente o escutou. Uma década mais cedo, 14 mulheres haviam acusado Cosby de estupro. Em 2005, Andrea Constand, uma ex-estrela de basquete da Temble University, em que ele era membro do conselho diretor, alegou às autoridades que ele a havia drogado a um estado de semi-consciência e então a tocado e penetrado com os dedos. Depois de as alegações terem vindo a público, uma advogada da Califórnia chamada Tamara Green apareceu no Today show e disse que, 30 anos antes, Cosby a havia drogado e abusado também. Eventualmente, 12 mulheres anônimas se alistaram para contar suas próprias histórias de abuso por parte de Cosby em apoio ao caso de Costand. Muitas delas eventualmente revelaram seus nomes. Mas eram recebidas, na maior parte das vezes, com ceticismo, ameaças e ataques ao seu caráter.

LINDA BROWN, 67 KAYA THOMPSON, 44

Ano em que afirma ter sido abusada: 1969 Ano em que afirma ter sido abusada: fim dos anos 80

No depoimento de Cosby no caso de Constand, revelado para o público apenas na semana passada, o comediante admitiu buscar sexo com mulheres jovens com o auxílio de Quaaludes, que pode deixar uma pessoa funcionalmente imóvel. "Eu os usei", disse ele, "da mesma forma que uma pessoa diria 'Tome um drink'". Ele pediu a um agente de modelos que o ajudasse a entrar em contato com mulheres jovens que eram novas na cidade e não estavam "se dando bem financeiramente". No depoimento, Cosby parecia confiante de que seu comportamento não constituía um estupro; ele aparentemente via pouca diferença entre pagar um jantar a alguém, em um busca de sexo, e drogá-la para atingir o mesmo objetivo. Quanto ao consentimento, ele disse "Eu acho que sei interpretar decentemente as pessoas e suas emoções nessas coisas sexuais". Se essas mulheres concordaram em se encontrar com ele, o depoimento sugeria, ele sentia que tinha direito a elas. E parte do que fez com que as acusações contra Cosby demorassem tanto tempo para vir à tona é que essa crença se estendia a muitas das próprias mulheres (assim como aos funcionários, advogados, amigos e outros que ajudaram a manter os incidentes em segredo).

SUNNI WELLES, 66 THERESE SERIGNESE, 68

Período em que afirma ter sido abusa: meados Ano em que afirma ter sido abusada: 1976

dos anos 60

Meses após seus depoimentos, Cosby entrou em um acordo no caso Constand. As acusações rapidamente se esvaíram da memória do público, se é que foram sequer registradas. Ninguém queria acreditar que o pai com um casaquinho de botões da TV era capaz de tais coisas, então não acreditaram. O National Enquirer havia planejado publicar uma matéria detalhando o relato de uma das mulheres, mas a revista a cancelou quando Cosby concordou em dar a eles uma exclusiva de duas páginas contando seu lado da história (basicamente que essas eram ocasiões que haviam sido "mal interpretadas"). A revista People publicou uma matéria alegando que muitas das mulheres haviam aceitado dinheiro em troca de seu silêncio, inferindo que isso não era nada mais do que uma elaborada extorsão. A carreira de Cosby continuou: somente em 2014, havia um especial de stand-up, planos para uma nova comédia familiar na NBC e uma importante biografia escrita por Mark Whitaker, que passava por alto pelas acusações.

BETH FERRIER, 56 CARLA FERRIGNO.

Ano em que afirma ter sido abusada: meados Ano em que afirma ter sido abusada: 1967

dos anos 80

O grupo de mulheres que Cosby supostamente abusou funciona quase como um estudo de corte longitudinal —tanto pelo modo como essas mulheres como indivíduos, sozinhas, lidam com esse trauma ao longo das décadas, quanto pelo modo que a cultura tem combatido com dificuldade o estupro ao longo desse mesmo período de tempo. Nos anos 60, quando o primeiro suposto caso de abuso perpretado por Cosby ocorreu, o estupro era considerado algo violento cometido por um estranho; o estupro por conhecidos não era reconhecido, nem mesmo para as mulheres que passavam por ele. Algumas das mulheres que acusam Cosby afirmam que ele as molestou ou estuprou diversas vezes; uma permaneceu em sua órbita, entrando e saindo de um estado drogado por anos. Nos anos 70 e 80, os movimentos universitários como Take Back the Night [Retire a Noite] e "No Means No" ["Não Significa Não"] ajudaram a aumentar a conscientização acerca da realidade de que 80 a 90% das vítimas conhecem seu agressor. Ainda assim, a cultura do silêncio e da vergonha permanecia, especialmente quando os homens acusados tinham qualquer tipo de status. A primeira suposição era de que as mulheres que acusavam homens famosos estavam atrás de seu dinheiro ou de atenção. Como Cosby supostamente disse a uma de suas vítimas: Ninguém iria acreditar em você. Então por que se manifestar?

JANICE DICKINSON, 60 LOUISA MORITZ, 69

Ano em que afirma ter sido abusada: 1982 Ano em que afirma ter sido abusada: 1971

Mas entre as mulheres mais jovens, principalmente online, há uma sensação forte agora de que se manifestar é a única coisa a ser feita, que uma mulher afirmando sua condição de vítima é mais poderoso do que qualquer outra arma na luta contra o estupro. Emma Sulkowicz, carregando seu colchão pela Columbia em uma performance de protesto contra o estupro que afirma ter sofrido, é uma praticante extrema dessa ideia. Essa é uma geração que foi radicalizada, apenas nos últimos anos, por exemplos horríveis de estupro e de reações a estupros —como o incidente em Steubenville em 2012, em que jogadores de futebol americano do ensino médio violaram brutalmente uma adolescente desmaiada em uma festa, fotagrafaram e espalharam orgulhosamente as provas. Nesse mesmo ano, quando uma líder de torcida de 14 anos do Missouri acusou um garoto mais velho e popular de sua escola de abuso sexual, seus colegas de classe a humilharam nas redes sociais, e a casa de sua família foi incendiada. O mundo inteiro assistiu online. Como esse tipo de coisa pode ainda estar acontecendo? Esses casos pareceram impossíveis de ignorar, de esquecer, são como passagens bíblicas do Antigo Testamento. Alguém teria acreditado nas garotas, ou se importado, caso as provas não tivessem sido digitalizadas? E: como você poderia ser uma mulher jovem e não se importar profundamente em tentar resolver isso?

KACEY (O nome foi alterado). CHELAN LASHA, 46.

Ano em que afirma ter sido abusada: 1966 Ano em que afirma ter sido abusada: 1986

Essa geração provavelmente será ainda mais estimulada pelas alegações de que um ícone da cultura nacional americana pode ter tido permissão para drogar e estuprar mulheres por décadas, sem repercussões. Mas essas mulheres mais jovens deram algo às acusadoras de Cosby também: um modelo de como se manifestar, e um megafone na forma de mídias sociais.

HELEN HAYES, 80. SARITA BUTTERFIELD, 59.

Ano em que afirma ter sido abusada: 1973 Ano em que afirma ter sido abusada: 1977

O Facebook e o Twitter, os fóruns que ajudaram a circular a cena de Buress, inundavam de ódio pela crueldade enxergada em Cosby. Barbara Bowman, que havia se manifestado durante o caso Constand, escreveu um artigo de opinião no Washington Post sobre sua frustração por ninguém ter acreditado nela durante todos esses anos. Três dias após o artigo de Bowman, outra mulher, Joan Tarshis, se apresentou para dizer que Cosby a tinha drogado e estuprado em 1969. Até o fim de novembro, mais 16 mulheres haviam se manifestado. Cosby se demitiu do conselho diretor da Temple e pediu compensações por danos financeiros a uma de suas acusadoras; ele também contou à "Page Six" que queria que "a mídia negra mantivesse os padrões de excelência em jornalismo [e] entrasse com uma mente neutra". (Cosby, através de seus representantes, tem negado incessantemente qualquer malfeito e não foi acusado por nenhum crime. E-mails a quatro de seus advogados e assessores de imprensa não foram respondidos, embora sua equipe tenha começado um tour midiático para negar que sua admissão do oferecimento de Quaaludes para mulheres seja equivalente a uma admissão de estupro).

AUTUMN BURNS, 68. LILI BERNARD.

Ano em que afirma ter sido abusada: anos 1970 Ano em que afirma ter sido abusada: início

dos anos 90

Até fevereiro, havia mais outras 12 acusadoras. Tina Fey e Amy Poehler brincaram com isso nos Golden Globes: "A Bela Adormecida só achou que estava tomando café com Bill Cosby". A advogada Gloria Allred se envolveu, representando mais de doze mulheres. Até o presidente Obama disse que estava claro para ele: "Se você dá a uma mulher — ou a um homem, na verdade — uma droga sem que ela ou ele saiba, e então faz sexo com a pessoa sem seu consentimento, isso é estupro".

MARGIE SHAPIRO, 58 REBECCA LYNN NEAL, 60

Ano em que afirma ter sido abusada: 1975 Ano em que afirma ter sido abusada: 1986

Existem agora 46 mulheres que se manifestaram publicamente para acusar Cosby de estupro ou abuso sexual; as 35 mulheres aqui são as acusadoras que estavam dispostas a serem fotografadas e entrevistadas pela New York. O grupo atualmente varia em idade do início dos 20 aos 80 anos e inclui as supermodelos Beverly Johnson e Janice Dickinson, assim como garçonetes, coelhinhas da Playboy, jornalistas e várias mulheres que costumavam trabalhar no show business. Muitas delas dizem saber de outras que escolheram permanecer caladas.

Esse projeto começou há seis meses, quando começamos a contatar as (até então) 30 mulheres que haviam publicamente afirmado que Cosby as havia abusado, e cresceu rapidamente, assim como as acusações iniciais cresceram: primeiro, duas mulheres concordaram em participar, então outras ouviram falar do projeto e entraram, e assim por diante. Apenas alguns dias antes de a matéria ser publicada, fotografamos as duas últimas mulheres, chegando ao total de 35. "Não tenho mais medo", disse Chelan Lasha, que se manifestou no fim do ano passado para dizer que Cosby a havia drogado quando tinha 17 anos. "Eu me sinto mais poderosa do que ele".

CINDRA LADD, 67. HELEN GUMPEL, 59.

Ano em que afirma ter sido abusada: 1969 Ano em que afirma ter sido abusada: por

volta de 1987

Junto a esse ensaio fotográfico está uma compilação das entrevistas com essas mulheres, um relato de trauma e sobrevivência — as memórias vivas de incidentes ocorridos há décadas. Todas as 35 foram entrevistadas separadamente, e ainda assim suas histórias apresentam semelhanças marcantes em tudo, desde suas descrições dos incidentes até a forma como se sentiram depois. Cada história é terrível a seu próprio modo. Mas o horror é multiplicado por as vermos juntas, as lermos juntas, considerando suas experiências compartilhadas. As mulheres encontraram conforto em seu número — descobrindo que não estavam sozinhas, que havia outras que acreditavam nelas implicitamente, com quem não precisam ter medo de dividir os detalhes mais sombrios de suas vidas. Elas estão espalhadas por todo o país — dez estados estão representados — e a maioria não tinha contato com as outras acusadoras até recentemente. Mas desde que leram sobre as histórias umas das outras nas notícias, ou que encontraram umas às outras nas redes sociais, ou que se encontraram pessoalmente no ensaio fotográfico organizado pela New York, muitas das mulheres criaram um vínculo. É, como Tashis chama, "uma irmandade pesarosa".

Testemunhos: os incidentes

HEIDI THOMAS, 55

Ano em que afirma ter sido abusada: 1984

"Meu agente disse que tínhamos sido contatados por uma pessoa muito, muito grande na indústria do entretenimento que estava interessada em ser o mentor de talentos jovens e promissores. Eu descubri que era o Bill Cosby. Eu entendi que receberia treinamento particular de atuação dele. Essa era uma oportunidade imperdível. Um motorista iria me buscar, meu agente pagaria por isso. Isso tornou tudo muito, muito profissional. A porta abre, e ali está o Cosby. Ele está em seu moletom e é muito casual, muito amigável. Eu tinha um monólogo preparado. Ele não pareceu impressionado. Ele disse 'Vamos tentar uma leitura improvisada', e pegou um roteiro. A cena se passava em um bar; a personagem era alguém que estava bêbada. Ele encheu um copo de vinho branco. E ele disse, use isso como um adereço — isso significa que você vai ter que dar um gole, é claro. Eu realmente não me lembro de muita coisa, exceto de acordar em seu quarto. Ele estava nu e se forçando na minha boca". — Heidi Thomas

JEWEL ALLISON

Ano em que afirma ter sido abusada: fim dos anos 80

"Fui apresentada ao Bill Cosby pela minha agente de modelos. Ela disse que o Cosby queria me ver. O que eu obviamente achei que era para o programa [dele]. Me disseram que haveria um jantar, e quando cheguei lá, ninguém mais apareceu. Ele perguntou se eu queria uma taça de vinho; eu dei alguns goles. Tinha um gosto horrível. E comecei a me sentir mal. Ele me ajudou a levantar pegando nos meus braços com ambas as mãos. Ele me levou ao cômodo ao lado, onde havia um espelho na parede, e disse para eu me olhar. Tinah algo de errado comigo. Então pegou minha mão direita e a colocou nas minhas costas. Eu lembro de ver sêmen no chão. E senti algo líquido na minha mão. Então soube que havia algo sexual acontendo". —Jewel Allison

VICTORIA VALENTINO, 72

Ano em que afirma ter sido abusada: 1969

"Ele levou a mim e a minha colega de quarto para jantar. Era um restaurante novo e legal na pista perto do Whiskey a Go Go chamado Sneaky Pete's. Ele estava dando em cima dela e tentando conquistá-la. E ele se esticou, colocou uma pílula ao lado do meu copo de vinho e disse 'Aqui, isso vai fazer você se sentir melhor', e deu uma a ela. Eu não estava pensando. Meu filho tinha morrido recentemente. Eu pensei, 'Ótimo, eu me sentir melhor? Pode apostar'. Então tomei a pílula com um pouco de vinho tinto. Então ele se esticou e colocou outra pílula na minha boca e deu uma a ela. Logo após tomar a segunda pílula, meu rosto estava, tipo, grudado no prato e eu só disse: 'Quero ir pra casa'. Ele disse que nos levaria em casa. Subimos por um elevador. Eu sentei, encostei minha cabeça, lutando contra o enjoo. Olhei ao redor e ele estava sentado ao lado da minha colega de quarto em um sofá com um olhar muito predatório. Ela estava completamente inconsciente. Eu conseguia ouvir as palavras na minha cabeça, mas não conseguia formar palavras com a minha boca, porque estava tão drogada. Ele se levantou e veio até mim, sentou e abriu o zíper da calça. Ele me fez fazer sexo oral nele, então me levantou, me virou, me penetrou comigo de quatro e saiu. Assim que ele saiu pela porta, eu disse: 'Como a gente sai daqui, como vamos para casa?' e ele disse: 'Chamem um táxi'. —Victoria Valentino

KATHY MCKEE, 66

Ano em que afirma ter sido abusada: início dos anos 70

"O Bill era um amigo. Eu tinha jantado com ele e sua esposa em uma ou duas ocasiões, tinha trabalhado com ele, o conhecia há muitos, muitos anos, e ele nunca tinha dado em cima de mim. Então, quando isso aconteceu comigo, fiquei muito, muito chocada. Simplesmente não conseguia entender o que havia de errado com ele. Ele tinha perdido a cabeça? Quando saí do banheiro, ele disse para mim: 'Ok, vamos, vamos lá. Estão nos esperando'. Ele estava se comportando como uma pessoa que nunca havia visto antes em minha vida". —Kathy McKee

BARBARA BOWMAN, 48

Período em que afirma ter sido abusada: 1985-1987

"Quando tinha 17 anos, meu agente me apresentou ao Bill Cosby, que iria ser meu mentor e levar minha carreira para o próximo passo. Ao longo do ano seguinte, fui drogada na metade do tempo que passava com ele e saía de uma alucinação dizendo 'Nossa, o que foi isso?'. Ele dizia 'Bom, eu precisei tirar sua roupa e lavá-las, porque você ficou bêbada e agiu como uma tola'. Lembra da história da Jaycee Dugard? Ela podia praticamente pular a cerca a qualquer momento que quisesse, mas estava tão ferrada que não conseguia pensar direito. Eu me sentia como uma prisioneira; eu sentia que havia sido sequestrada e escondida em plena vista. Eu poderia ter andando por qualquer rua de Manhattan, a qualquer momento, e dito 'Estou sendo estuprada e drogada pelo Bill Cosby', mas quem diabos iria acreditar em mim? Ninguém, ninguém. Fui convidada para ir a Atlantic City para ver seu programa e tive uma noite muito confusa em que estava completamente drogada e minha bagagem tinha desaparecido. Quando liguei para o porteiro para descobrir onde estava minha bagagem, o Cosby ficou enlouquecido. Ele bateu o telefone e disse 'Que merda você está fazendo, deixando o hotel saber que tem uma garota de 19 anos no meu quarto?'. Na manhã seguinte, ele me convocou a seu quarto e gritou que eu precisava ter discrição. Ele me jogou na cama e colocou seu braço abaixo da minha garganta. Sentou com as pernas abertas e tirou seu cinto. O barulho da fivela do cinto, eu nunca vou esquecer". —Barbara Bowman

JOYCE EMMONS, 70

Ano em que afirma ter sido abusada: 1979

"Eu estava com uma dor de cabeça terrível e disse: 'Bill, você tem um Tylenol? Estou com uma dor de cabeça daquelas'. E ele me disse: 'Tenho algo mais forte'. E eu disse: 'Você sabe que não uso drogas'. Ele disse: 'Você é uma das minhas melhores amigas. Eu te machucaria?'. E eu acreditei nele. Tudo de que me lembro é de tomar a pílula; não me lembro de ir para a cama. Mas me lembro de acordar anuviada e abrir meus olhos, e eu estava sem roupas, e lá estava o amigo de Bill totalmente nu comigo na cama. Ele começou a rir e a sorrir e disse: 'Ah, você se divertiu?'. Eu disse: 'Que porra aconteceu? Você sempre fode uma pessoa morta?'. Vesti minhas roupas e saí. E o Bill disse: 'Onde você vai?' e eu disse: 'Que caralho você me deu?'. Ele disse: 'Ah, você estava com muita dor de cabeça, estava com tanta dor. Te dei um Quualude'. Eu estava mais magoada com o Bill do que com raiva do seu amigo. O Bill deixou que ele se aproveitasse de mim. Isso me mata. Por isso sei que as histórias do que ele fez com as outras mulheres são verdade, porque se ele não teve respeito por mim, que era uma amiga muito próxima, então conseguiria fazer isso com qualquer pessoa que não conhecesse muito bem". —Joyce Emmons

Os efeitos

PJ MASTEN, 65

Ano em que afirma ter sido abusada: 1979

"Eu contei à minha supervisora no Playboy Club o que ele fez comigo, e sabe o que ela me disse? Ela disse: 'Você sabe que ele é o melhor amigo do Hefner, não é?'. Eu disse: 'Sim'. Ela fala para mim: 'Ninguém vai acreditar em você. Eu sugiro que fique de boca fechada'". —PJ Masten

TAMARA GREEN

Ano em que afirma ter sido abusada: 1970

"As pessoas frequentemente dizem hoje em dia: 'Bom, por que você não foi à polícia?'. A Andrea Constand foi à polícia em 2005 — e o que isso trouxe de bom para ela? Absolutamente nada. Em 2005, o Bill Cosby ainda tinha controle da mídia. Em 2015, temos a mídia social. Não podem nos fazer desaparecer. Está online e nunca vai sumir". — Tamara Green

*

"Houve alguns momentos em que tentei me manifestar. Mas estava simplesmente muito assustada e também tinha o fardo extra de realmente não querer abater um afro-americano". — Jewel Allison

JOAN TARSHIS, 67

Ano em que afirma ter sido abusada: 1969

"Eu não havia entendido que havia sido estuprada. Naquela época, o estupro era cometido em um beco por alguém pressionando uma faca na sua garganta e que você não conhecia. Não existia estupro entre conhecidos naquela época. Eu só sabia que algo horrível havia acontecido. Mas não conseguia dar um nome. A diferença entre isso e aquele estupro no beco escuro é que o rosto dele estaria diante de mim toda semana na TV. As pessoas mencionariam uma piada e ele diria: 'Isso não foi engraçado?'. E enquanto isso, meu estômago estaria se revirando". — Joan Tarshis

MARCELLA TATE, 67

Ano em que afirma ter sido abusada: 1975

"Em 1975, não era uma questão que discutíamos. Estupro era ser agredida em um parque. Eu entendi na época que era errado, mas simplesmente internalizei, lidei com isso e reprimi, e ficava em um lugar muito privado. Afeta sua confiança nas outras pessoas." —Marcella Tate

*

"Sobreviventes de estupro têm muita dificuldade em ter relacionamentos íntimos. Eu estava nos meus 20 anos. Eu nunca conseguia ter um relacionamento de verdade. Era como um tumor maligno e nojento — um tumor secreto". —PJ Masten

SAMMIE MAYS, 57

Ano em que afirma ter sido abusada: 1987

"Quando vejo uma gelatina, tudo volta numa avalanche. O Bill Cosby, o encontro, aquela única vez foram um fator enorme no rumo que minha vida tomou, em direção a um lado obscuro". —Sammie Mays

LINDA JOY TRAITZ, 54

Ano em que afirma ter sido abusada: 1959

"Dezoito é muito nova. Levou muito, muito tempo para aceitar o fato de que foi ele, não fui eu. A vida não foi fácil para mim. Tive problemas com vícios conforme fui envelhecendo". — Linda Joy Traitz

*

"As pessoas falam: 'Por que você ainda não superou?', mas você pode igualmente perguntar a um soldado por que ele não esqueceu a Batalha de Guadalcanal. Havia alguém tentando machucá-lo, alguém tentando matá-lo, e ele nunca supera, só aprender a lidar com isso". — Tamara Green

A avalanche

"Eu li o artigo da Barbara Bowman no Whashington Post, que ninguém acreditava nela, e disse: 'É isso. Tenho que dizer algo agora. Tenho que ir e dizer 'Sim. Alguém acredita em você sim, porque aconteceu comigo'. Era como se estivéssemos cantando à tirolesa em um cânion e isso provocasse uma avalanche. Sabia que nunca receberia dinheiro nenhum. Certamente não queria ser lembrada como a mulher que o Bill Cosby estuprou. Mas me senti tão exonerada por não estar sozinha". — Joan Tarshis

*

"Como isso nos beneficiaria? Não beneficia. Estamos contando a história porque não podemos mais deixá-la dentro de nós". — Kathy McKee

JANICE BAKER-KINNEY, 57

Ano em que afirma ter sido abusada: 1982

"Me manifestei para dar apoio como uma testemunha. Sabia que, no meu caso, o crime havia prescrevido. Quando apenas uma ou duas mulheres se revelaram, há uns dois anos, foram mais ridicularizadas. É difícil não acreditar nos números agora". — Janice Baker-Kinney

*

"Eu estava na internet em uma manhã, só para checar meu e-mail. A página do Yahoo apareceu, e havia algo sobre o Bill Cosby, um negócio com o Habbibal Buress. E de repente, algo me tomou. Raiva. Filho da puta! Sabe, podem não acreditar em uma mulher por 30 anos. Mas basta um homem? Fazendo uma piada sobre o assunto? Aquela porra me irritou tanto. De repente pensei, 'Com quem eu entrou em contato?'". — Victoria Valentino

LISE-LOTTE LUBLIN, 48

Ano em que afirma ter sido abusada: 1989

"Tenho uma amiga que é detetive da polícia. Ela foi quem me pressionou a fazer um boletim de ocorrência. Meu marido estava tipo: 'Não, não quero que ninguém saiba, não queremos te expor, eu não quero as pessoas falando coisas ruins'. Mas minha amiga disse: 'Você tem que fazer isso por você''. —Lise-Lotte Lublin

*

"Eu vi que havia muitas respostas negativas sendo postadas contra a Barbara Bowman, a Joan Tarshis, a Tamara Green e a Andrea Constand, as agrupando em uma referência histórica de afirmações que "mulheres brancas" haviam feito no passado, que não eram verdadeiras, sobre serem estupradas por homens negros. Mas infelizmente nesse caso eu sabia que havia uma grande possibilidade de que essas mulheres estivessem falando a verdade, porque eu tive minhas próprias experiências negativas com o Bill Cosby. E eu só senti tipo: 'Não, isso não pode ir nessa direção'". — Jewel Allison

BEVERLY JOHNSON, 62

Ano em que afirma ter sido abusada: meados dos anos 80

"A parte para a qual não estava preparada era a massa de mulheres que haviam sido abusadas e elas contando suas histórias porque eu contei a minha". — Beverly Joshnson

*

"Comecei a receber mensagens inbox no Facebook de outras Coelhinhas: 'Ele fez isso comigo também, PJ. Ele também me atacou'. Existem uns dois websites —'We believe the women' [Nós acreditamos nas mulheres] — e sites sobre o Cosby que nós todas criamos. E nós conversamos, as sobreviventes. Acabamos de participar do ensaio fotográfico. E eu disse que foi uma das melhores experiências que já tive. Foi divertido. A música estava ótima, a comida estava ótima, estávamos todas dançando e rindo, mas em Los Angeles, o grupo de Los Angeles disse que havia sido tão sombrio, e todas estavam chateadas. E eu disse: 'O que, está falando sério? Estávamos celebrando aqui em Nova York, queridas'. Nossa liberdade, nossa liberdade! Não há nada de macabro nisso. Nos libertamos". — PJ Masten

*

"Olha, ele era o pai favorito da América. Eu entrei nisso achando que ele seria meu pai. Acordar seminua e estuprada pelo homem que disse que iria me amar como um pai? Isso é bem doentio. Foi difícil para a América digerir isso quando foi revelado. Houve muitas respostas negativas, muita negação e muita raiva". —Barbara Bowman

*

"Acho que seu legado vai ser parecido com o de O.J. Quando você ouve o nome de O.J. Simpson, você não pensa: 'Ah, que ótimo jogador de futebol'. Essa não é a primeira coisa que vem à sua mente. Não acho que vai ser 'Ah, ótimo comediante'. Vai ser 'Ah, estuprador em série'. Esse vai ser seu legado". — Joan Tarshis

Tradução de Bruna de Lara

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