Ellen DeGeneres lança marca de roupas... "agênero"?
- por Bruna Leão
- 28 de mai. de 2015
- 2 min de leitura

Um dia saí pra comprar um tênis novo. Entrei em uma loja e lá estavam centenas deles expostos em uma parede. Olhei e vi um de que eu gostei. De repente, percebi que ele estava na seção de tênis masculinos, e minha primeira reação foi colocá-lo de volta no seu lugar. Me levou alguns segundos pra perceber o quão ridícula havia sido a minha reação: não poderia usar o tênis porque ele está exposto no rol de tênis que seriam “para homens”?
Depois comecei a perceber mais os tipos de roupas que não cogitei nem olhar, porque estavam na seção masculina: camisas com estampas de algum personagem que eu também curto, ou de alguma banda, ou até mesmo camisas de botão e manga comprida que eu também uso. Por isso, me pareceu muito bem-vinda, à primeira vista, a notícia de que a Ellen DeGeneres estaria criando uma marca de roupas “agênero”.
Segundo Ellen, "Estamos aprendendo muito sobre gênero, sexualidade e fluidez, e eu acho que isso tem de se misturar e espalhar para o mundo da moda". Por isso, a vontade de criar roupas que traduzissem seu estilo agênero.
A marca, ED, assim nomeada tanto pelas iniciais da apresentadora quanto pelo apelido pelo qual sua esposa, Portia de Rossi, a chama, tem lançamento previsto para junho deste ano. São roupas inspiradas no próprio estilo de Ellen: camisetas, blazers, jaquetas e suéteres.

Mas… pera aí. Camisetas, blazers e jaquetas são roupas “agênero”?
Roupas não tem gênero, óbvio, mas são uma das formas mais significativas de separação dos estereótipos de gênero. Desde cedo, meninas vestem roupas “de menina” — vestidos, saias, rosa, normalmente roupas que denotam delicadeza —, e meninos roupas “de menino” — notadamente, o azul, bermudas, camisetas da hot wheels, etc . E, apesar disso sofrer mudanças ao longo do tempo, como quando mulheres reivindicaram o uso de calças, ainda quando são peças usadas tanto por homens quanto mulheres, como uma jaqueta jeans, mesmo assim existe uma jaqueta jeans feminina e uma masculina, cada qual em sua respectiva seção numa loja.
O problema, no entanto, de se usar o termo “agênero” é fazer supor que todas as outras roupas, e, principalmente, de todas as outras marcas tem um gênero. Menos as roupas da ED, claro — olha o marketing aí.
Então, apesar de achar apropriada a crítica que se faz ao modo como roupas são categorizadas em um gênero específico, não acredito que sejam roupas “agênero”. São apenas roupas.
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