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Conhecendo Melhor Alguns "Fatos Desconhecidos"

  • Bruna Leão
  • 15 de abr. de 2015
  • 15 min de leitura

A internet é um grande facilitador do conhecimento, mas também um grande facilitador do desconhecimento. Isso porque o outro lado da moeda de permitir um amplo acesso da informação é de permitir, também, que mentiras se perpetuem, transformando-as em senso comum. Poucas pessoas se dão o trabalho de pesquisar a veracidade das informações que lêem, principalmente nas redes sociais. Tal descaso promove esse tipo de ideia:



Esses tópicos foram imensamente compartilhados por várias páginas e pessoas do Facebook, sem absolutamente fonte alguma. Tomado como verdade, está sendo utilizado como “contra-argumento” às pautas feministas. Um misto de desonestidade e mentira, os argumentos ali elencados podem ser facilmente desmentidos. E é isso que vamos fazer agora.


Primeiramente, temos que considerar alguns aspectos sobre a questão de gênero. Uma confusão que é repetidamente feita é a de colocar questões de raça, sexualidade, classe como uma questão de gênero. O que isso significa? Apesar de homens fazerem parte de um grupo historicamente dominante quando algo é analisado sob a perspectiva de gênero, isso não será verdade sempre. Ou seja, homens podem compor grupos marginalizados. É o caso, por exemplo, de homens negros, pobres, homossexuais, transgêneros, etc. Dessa forma, quando não é analisada outras formas de opressão, como problemas de classe, raça, etc; um dado pode ser confundido (ou propositalmente colocado) como um problema de gênero. É isso que ocorre com uma parte dos argumentos listados.

Mas vamos por partes.


1. 90% dos mendigos são homens?


Os dados disponíveis que analisam a questão da população em situação de rua, por meio de um estudo realizado entre agosto de 2007 e março de 2008 em municípios com mais de 300.000 habitantes, informam que 82% do total aproximado de 50.000 (1) pessoas em situação de rua são do sexo masculino.


Analisado de forma isolada, esse dado é levado ao erro de o interpretarmos como uma questão de gênero (como mencionado anteriorimente). No entanto, outras informações importantes sobre o perfil dessa população nos dão um panorama mais elucidativo sobre o tema:


  • 82% do sexo masculino;

  • 53% com idade entre 25 e 44 anos;

  • 67% são negros;

  • A maioria (52,6%) recebe entre R$20,00 e R$80,00 semanais;

  • Composta, em grande parte, por trabalhadores – 70,9% exercem alguma atividade remunerada;

  • Apenas 15,7% pedem dinheiro como principal meio para a sobrevivência;

  • Parte considerável é originária do município onde se encontra, ou locais próximos;

  • 69,6% costuma dormir na rua, sendo que cerca de 30% dorme na rua há mais de 5 anos;

  • 22,1% costuma dormir em albergues ou outras instituições;

  • 95,5% não participa de qualquer movimento social ou associativismo;

  • 24,8% não possui qualquer documento de identificação;

  • 61,6% não exerce o direito de cidadania elementar que é o voto;

  • 88,5% não é atingida pela cobertura dos programas governamentais, ou seja, afirma não receber qualquer benefício dos órgãos governamentais.


E porque estão em situação de rua? A pesquisa aponta que alcoolismo/drogas (35,5%), desemprego (29,8%); desavenças com pai/mãe/irmãos (29,1%) são os principais motivos.


A questão do desemprego pode ser diretamente associada à raça. No Brasil, a questão da probreza e da raça são interligadas: a maioria da população pobre é negra e é pobre justamente por ser negra. O racismo estrutural as colocou historicamente em um nível de pobreza. Por isso, não é surpreendente descobrir que a maior parte da população em situação de rua é, de fato, negra.


A pesquisa não mostra dados em relação a sexualidade (se são homossexuais, bissexuais) e transexualidade. Considerando a discriminação da população LGBT, principalmente das travestis e transexuais, em conseguir empregos formais e levando em consideração também o fato de que faz parte da realidade da grande maioria dessas pessoas o rompimento com os laços familiares, sendo expulsos de casa (note que desemprego e desavenças familiares são causas expressivas pra uma pessoa se encontrar em situação de rua), não podemos saber em que medida essas pessoas estão inseridas nesses dados.


O que esses números demonstram é que de forma alguma essas pessoas, apesar de serem majoritarimente homens, estão em situação de rua por serem homens.


2. Homens realizam 95% do trabalho perigoso do mundo?


Não podemos saber de onde surgiu esse dado, possivelmente inventado. Não sabemos a definição exata do que foi considerado, ali, como “trabalho perigoso” também. De acordo com a informação obtida no site do Ministério do Trabalho em Emprego:


A lei considera atividades ou operações perigosas todas aquelas que, pela natureza ou métodos de trabalho, coloquem o trabalhador em contato permanente com explosivos, eletricidade, materiais ionizantes, substâncias radioativas, ou materiais inflamáveis, em condições de risco acentuado.


Não duvidaria, no entanto, que, pelo senso comum do que é considerado “trabalho perigoso” seja feito majoritariamente por homens (pobres, diga-se de passagem), ainda que não seja 95%.


Historicamente, a inserção da mulher no mercado de trabalho é um acontecimento bastante recente. E as opções eram bastante limitadas, normalmente secretárias, professoras, enfermeiras. Os “trabalhos perigosos”, assim como muitos não perigosos e às vezes exclusivamente intelectuais, como serem juristas, matemáticas, pesquisadoras em geral, políticas, médicas, era vedado ao sexo feminino.


Quando se leva em conta a questão da classe e raça, a análise muda de perspectiva. Mulheres pobres e negras sempre trabalharam para seu sustento ou para o sustento de outras pessoas. Homens negros e pobres são também o grupo que sempre realizou os trabalhos de menor prestígio.


Desses “95%” de homens que realizam trabalhos perigosos, quantos são negros? Quantos são operários? Quantos são pobres? Qual o perfil desse trabalhador? Essas questões devem ser analisadas antes de se apontar que se trata de algum tipo de discriminação de gênero.


De toda forma, não foram as mulheres que decidiram não realizar “trabalho perigoso”, as decisões políticas da época eram feitas exclusivamente por homens. Sem contar que é bastante paternalista a noção de que mulheres devem ser protegidas de tais tipos de profissões (um dos motivos normalmente apontado para justificar o fato de serem trabalhos essencialmente masculinos), havendo também a visão machista de que a mulher não seria capaz de realizar tais trabalhos. Um pouco injusto relcamar que homens realizam quase todo o trabalho perigoso do mundo quando foram os homens que decidiram isso, não?


3. Homens são 95% das vítimas de acidentes de trabalho?


De acordo com o Anuário Estatístico da Previdência Social de 2013 (o mais recente), durante o ano de 2011, foram registrados no INSS cerca de 711,2 mil acidentes do trabalho. Desse total: "As pessoas do sexo masculino participaram com 75,3% e as pessoas do sexo feminino 24,7% nos acidentes típicos; 63,9% e 36,1% nos de trajeto; e 61,0% e 39,0% nas doenças do trabalho".


A pesquisa destaca que:


Acidentes Típicos – são os acidentes decorrentes da característica da atividade profissional desempenhada pelo acidentado;

Acidentes de Trajeto – são os acidentes ocorridos no trajeto entre a residência e o local de trabalho do segurado e vice-versa;

Acidentes Devidos à Doença do Trabalho – são os acidentes ocasionados por qualquer tipo de doença profissional peculiar a determinado ramo de atividade constante na tabela da Previdência Social


Analisando além da perspectiva de gênero, a pesquisa revela também que:


Nos acidentes típicos e nos de trajeto, a faixa etária decenal com maior incidência de acidentes foi a constituída por pessoas de 20 a 29 anos com, respectivamente, 36,5% e 39,9% do total de acidentes registrados. Nas doenças de trabalho a faixa de maior incidência foi a de 30 a 39 anos, com 32,8% do total de acidentes registrados.

Em 2011, os subgrupos da CBO com maior número de acidentes típicos foram os de ‘Trabalhadores de funções transversais’ (2) e ‘Trabalhadores dos serviços’ (3), com 14,4% cada. No caso dos acidentes de trajeto o maior número ocorreu no subgrupo ‘Trabalhadores dos serviços’, com 18,6%, e nas doenças do trabalho foi o subgrupo ‘‘Trabalhadores de funções transversais’, com 14,2%. Na distribuição por setor de atividade econômica, o setor ‘Agropecuária’ participou com 4,0% do total de acidentes registrados com CAT, o setor ‘Indústria’ com 47,1% e o setor ‘Serviços’ com 48,3%, excluídos os dados de atividade ‘ignorada’. Nos acidentes típicos, os subsetores com maior participação nos acidentes foram ‘Comércio e reparação de veículos automotores’, com 12,4% e ‘Saúde e serviços sociais’, com 10,9% do total. Nos acidentes de trajeto, as maiores participações foram dos subsetores ‘Comércio e reparação de veículos automotores’ e ‘Serviços prestados principalmente a empresa’ com, respectivamente, 18,9% e 13,8%, do total. Nas doenças de trabalho, foram os subsetores ‘Atividades financeiras’, com participação de 13,0% e ‘Comércio e reparação de veículos automotores’, com 11,1%.


Quando vemos afirmações do tipo “homens são 95% das vítimas de acidentes de trabalho”, existe a associação de “estar em um acidente de trabalho” e “ser homem”. Ou seja, colocam o problema como uma questão de gênero.


A única relação de gênero que se pode fazer com esses dados é que homens compõe a maior parte dos grupos que tem mais acidentes de trabalho. Por exemplo, Indústria e Serviços, responsáveis, respectivamente, por 47,1% e 48,3% dos totais de acidentes registrados no CAT, seriam compostos majoritariamente por homens. Aí, analisar esses dados sob a perspectiva de classe seria bem melhor contextualizada. De resto, comentamos no item anterior questões que se aplicariam aqui (eles compõem majoritariamente esse grupo porque foram profissões que não eram permitidas mulheres desempenhar?).


4. Apesar do câncer de próstata matar tanto quanto o câncer de mama, o governo gasta 50 vezes mais dinheiro no combate ao câncer de mama do que no combate ao câncer de próstata?


Existem duas questões a serem analisadas aí: 1. se o câncer de próstata mata tanto quanto o câncer de mama (porque, uma diferença nesses dados poderia explicar uma diferença no tratamento dado pelo governo); 2. se o governo gasta 50 vezes mais dinheiro no combate ao câncer de mama comparado ao gasto no combate ao câncer de próstata.


Com relação a mortalidade, o INCA fornece estatísticas desde 1979 no Altas de Mortalidade por Câncer, que pode ser pesquisado com bastante facilidade. Pesquisei dados de 2000 até 2012 (ano mais recente), do Brasil (a pesquisa pode ser feita também por região) e levando em consideração o sexo masculino e, depois feminino:



Os resultados obtidos demonstram que há uma taxa um pouco maior de mortalidade no câncer de próstata em comparação com o câncer de mama, de, respectivamente, 13,65 e 12,10 mortes por 100.000 habitantes em 2012.


Tabela de taxa de mortalidade masculina


Taxa de mortalidade feminina


A outra questão seria se “o governo gasta 50 vezes mais dinheiro no combate ao câncer de mama do que no combate ao câncer de próstata”. Não foram encontrados dados que confirmem essa afirmação.


É difícil dizer se a menor taxa de morte do câncer de mama se comparado ao câncer de próstata está relacionado ao fato de haver mais investimento no combate a esse tipo de câncer. Por exemplo, havendo muito investimento no combate ao câncer de mama, poderíamos ver a mortalidade desse tipo de câncer sendo diminuida ao longo do tempo, enquanto a do câncer de próstata se manteria estável. No entanto, como se pode ver ao analisar os dados no site, o número de mortes de mulheres pelo câncer de mama cresceu ao longo dos anos. O número de mortes de pacientes com câncer de próstata também, passando de 3a a 2a causa mais comum de mortes por câncer em homens entre 1997 e 1999:




É importante salientar um grande problema pra prevenção do câncer de próstata está também relacionado ao machismo: o medo do exame de toque retal. De acordo com o médico urologista Anoar Samad, esse é o principal problema no diagnóstico desse tipo de câncer: “Infelizmente, muitos homens ainda se negam a realizar seus exames para simplesmente evitar o exame de toque retal. Por isso, muitos homens descobrem que estão com câncer em uma fase tardia dificultando demais a possibilidade de cura”, afirma.


Muitos homens vêem esse exame como uma forma de diminuição de sua masculinidade (afinal, o patriarcado os coloca constantemente tendo que provar sua virilidade).


Por isso, enquanto nas campanhas de prevenção ao câncer de mama é dado destaque ao toque nos seios, no caso do câncer de próstata o foco é na realização desse exame, que deve ser feito todo ano em homens com mais de 40 anos:



5. Os homens cometem 80% dos suicídios no Brasil?


Essa foi bem próxima, 79,3% do total de suicídios no Brasil não de homens. Esse fato está relacionado ao fato de serem homens? Não.

Existem várias explicações pro suicido, a maioria está relacionada a aspectos socioeconômicos e transtornos psiquiátricos. Eis algumas informações que achei pesquisando sobre o tema:


  • Uma pesquisa divulgada pelo IPEA aponta o seguinte: “Este artigo estimou, por meio de dados de painel, o efeito de variáveis econômicas sobre a taxa de suicídios nos estados brasileiros. Foram usados dados de todos os estados brasileiros, exceto o estado de Tocantins, para o período 1981-2006. Os resultados econométricos sugerem que fatores econômicos são relevantes para explicar o suicídio no Brasil. Podemos destacar que a renda têm efeito negativo sobre a taxa de suicídio. Contudo, não existe indicação de que a incidência de suicídio seja positivamente correlacionada com a idade, isto é, não encontramos evidências estatísticas de que o suicídio tenha correlação positiva com a população mais velha. Ao contrário, a taxa de suicídio tende a aumentar entre os indivíduos mais jovens. Os resultados obtidos assinalam que a desigualdade tem impacto positivo sobre o suicídio, enquanto a pobreza mostra correlação negativa com o suicídio. Já em relação ao desemprego, temos que essa variável aumenta a taxa de suicídio. Devemos destacar também que fatores puramente econômicos, como o desemprego e a renda, causam maior impacto sobre a taxa de suicídio do grupo de pessoas mais jovens da sociedade.”

  • Essa pesquisa realizada na UFPE afirma: “Suicídios e homicídios no Brasil podem ser considerados um problema de saúde pública, estando entre as principais causas de mortes, especialmente entre os mais jovens. Este estudo objetivou buscar correlações entre as variáveis socioeconômicas e os números de suicídios e homicídios nas Unidades Federativas brasileiras entre os anos de 1990 e 2009. Para testar as hipóteses do trabalho foi estimada uma regressão com dados de painel. Os resultados encontrados obtiveram coeficientes compatíveis com outros estudos e demonstraram que algumas correlações foram semelhantes para os dois casos, onde algumas das variáveis significativas foram às mesmas para homicídios e suicídios, “estudos”, “pibp” e “receita”. Em que o nível de escolaridade teve correlação negativa em ambos os casos, já o PIB per capita e receita tributária tiveram correlação positiva”.

  • Outro estudo publicado na Revista Baiana de Saúde Pública diz o seguinte: “O estudo em questão considera o suicídio um problema de saúde pública, um acontecimento complexo desencadeado pela influência de fatores estressores sobre o indivíduo. O objetivo deste artigo é avaliar o componente social nas mortes por suicídio, pela análise de indicadores socioeconômicos. Trata-se de um estudo do tipo ecológico exploratório que busca a associação entre dez indicadores socioeconômicos e a taxa de suicídio em todas as capitais do país. Os dados utilizados foram obtidos no DATASUS e no Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil do IBGE, referentes ao ano 2000. Os resultados apontam que a taxa de mortalidade por suicídio variou de 0,77 / 100 mil habitantes em Salvador (BA) a 14,04 / 100 mil habitantes em Boa Vista (AC). O sexo masculino apresenta risco relativo 3,7 vezes maior de cometer suicídio do que o feminino. A faixa etária de 15 a 29 anos apresentou menor risco relativo de cometer suicídio, enquanto o maior risco relativo foi encontrado na população com idade igual ou superior a 60 anos. Ambos os indicadores de desigualdade social (Índice de Gini e Índice L de Theil) apresentaram correlação negativa com a taxa de mortalidade por suicídio, com significância estatística ( rs = -0,479, p = 0,011 e r s = -0,403, p = 0,037, respectivamente). Concluiu-se que há associação entre os indicadores de desigualdade social e as taxas de suicídio. Nenhum outro indicador socioeconômico apresentou correlação, o que leva a acreditar que a origem e o amadurecimento do pensamento suicida parecem sofrer influência preponderante de fatores biopsicológicos.

  • Exite até mesmo este estudo publicado pelo IPEA que, além de fazer uma revisão da literatura sobre o tema, mostra os efeitos da mídia nas taxas de suicídio: “Utilizando dados para os 27 estados brasileiros, no período 1980-2009, observa-se que o índice de mídia (Midia) é o terceiro motivador do suicídio, depois de desemprego e violência, para todos os grupos de pessoas. O modelo estimado mostra que o aumento de 1% no Midia eleva a taxa de suicídio de homens jovens (idade entre 15 e 29 anos) em 5,34%. Este resultado parece sugerir uma espécie de efeito contágio nas taxas de suicídio, o que reforça os resultados obtidos por Cutler, Glaeser e Norberg (2001).

  • Essa publicação da Associação Brasileira de Psiquiatria afirma que 90% dos casos de suicídio são relacionados a problemas mentais sem tratamento adequado.


Os próximos itens tentam apresentar alguns motivos pelos quais os homens seriam prejudicados em relação às mulheres.


6. Homens se aposentem 5 anos mais tarde do que as mulheres.


Essa diferença na aposentadoria está diretamente associada a dupla (e às vezes tripla) jornada de trabalho enfrentada pelas mulheres. Não sei se vocês sabem, mas trabalho, mesmo não remunerado, é trabalho:


O trabalho não remunerado é composto por toda uma gama de atividades que garantem a reprodução social do sistema. Trata-se do cuidado das crianças, das tarefas domésticas e do cuidado com idosos ou doentes. Ignorar o trabalho não remunerado cria distorções quanto à avaliação da real capacidade produtiva de um país e reforça o descaso com aqueles que o executam, mulheres na sua maioria.


Um estudo internacional realizado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, aponta que “mulheres passam quase duas vezes mais tempo que os homens realizando serviços domésticos e atividades não remuneradas”. No Brasil, esse número é maior: “de acordo com dados do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), divulgados em 2012, as mulheres brasileiras gastam, em média, 26,6 horas semanais em afazeres domésticos, enquanto os homens dedicam apenas 10,5 horas”.


Esse blog foi curto, mas preciso, na análise da questão:


Além dos impropérios contra a pensão por morte, e vale salientar a importância deste benefício para as mulheres, agora os “estudos científicos” estão reclamando que elas se aposentam antes (60 anos de idade ou 30 de contribuição, enquanto o homem deve completar 65 ou 35) e, ainda por cima, vivem por mais tempo.

Para quem gosta apenas de números, como boa parte da tecnocracia, bastaria este argumento para acabar com a tal diferença. Em muitos debates este blogueiro colocou em dúvidas até mesmo os números apresentados; insisti muitas vezes que seria necessário um exame mais profundo sobre a média de vida das mulheres, quais seriam os resultados apenas para as mulheres que já estão no mercado de trabalho, inclusive com a reconhecida dupla jornada.

Agora alguns estudos econômicos reconhecem as diferenças entre homens e mulheres no mercado de trabalho, desde salários menores até maiores dificuldades no crescimento funcional, mas argumentam que não poderia ser na área previdenciária a compensação dos disparates. Como sempre, alegam que o déficit previdenciário seria agravado pois as mulheres insistem em viver mais tempo. Mas pelo menos reconhecem os graves disparates sofridos pelas mulheres, mesmo alegando que a solução passaria por melhor educação, maior cumprimento da lei e muitos outros sonhos, ao invés da manutenção da aposentadoria diferenciada.

A resposta para este tipo de alegação é uma só: quando os problemas das mulheres no mercado – como salário, dificuldades funcionais, assédios e a dupla jornada de trabalho – estiverem resolvidos, então sim, que se igualem os benefícios previdenciários. Por enquanto ainda é muito justo que as mulheres se aposentem mais cedo.


Mais informações sobre o tema, podem ser lidos aqui e aqui.


7. Homens vivem em média 8 anos a menos que as mulheres.


Segundo dados das Tábuas Completas de Mortalidade do Brasil de 2013 (divulgadas pelo IBGE), a expectativa de vida das mulheres brasileiras é 7,3 anos maior que a dos homens. A expectativa de vida da população feminina chegou a 78,6 anos enquanto a masculina atingiu 71,3.



O IBGE explica essa diferença da seguinte forma:


Pode‐se observar também a maior mortalidade masculina no grupo de adultos jovens, neste caso, de 15 a 29 anos aproximadamente, em relação à população feminina (Gráfico 1). Este fenômeno pode ser explicado pela maior incidência dos óbitos por causas violentas, que atingem com maior intensidade a população masculina.


Dados sobre causas externas de óbito entre jovens, homicídios, acidentes e suicídios, foram analisadas pelo Mapa da Violência de 2014, que corrobora a observação do IBGE:



“Novamente pode ser verificado que as maiores taxas de homicídio concentram-se na juventude”, afirma o estudo.


Com relação ao sexo, a pesquisa afirma também:


Diversos estudos, tanto nacionais quanto internacionais (MELLO, 1998; MINAYO, 1994; UNICEF, 1995) já alertaram que as mortes por homicídios, inclusive entre os jovens, são ocorrências notadamente masculinas. Os dados disponibilizados pelo SIM permitem confirmar esse fato.


No tocante a acidentes, outra causa de morte externa, a pesquisa revela que:


Entre 2000 e 2007, as taxas juvenis crescem 27,4%, bem acima das taxas do resto da população, que só cresceu 11,1%. Grande aumento da vitimização jovem, que coincide, como será visto mais à frente, com o boom da motocicleta e da mortalidade dos motociclistas, preferentemente jovens.


E, com relação ao suicídio, como comentado anteriormente, revela que é maior no sexo masculino, no entanto, sem fazer uma análise a partir da perspectiva socioeconômica.


O mais importante dessa pesquisa, no entanto, diz respeito à “cor dos homicídios”:


(...) Podemos observar uma acentuada tendência de queda no número de homicídios da população branca e de aumento no número de vítimas na população negra . Essa tendência se observa tanto para o conjunto da população quanto para a população jovem (...).

Efetivamente, entre os brancos, no conjunto da população, o número de vítimas diminui de 19.846 em 2002 para 14.928 em 2012, o que representa uma queda de 24,8%. Entre os negros, as vítimas aumentam de 29.656 para 41.127 nessas mesmas datas: crescimento de 38,7%.


Segundo o Mapa da Violência, “morreram proporcionalmente 73% mais negros que brancos”.


8. O serviço militar é obrigatório apenas para homens.


Por fim, chegamos ao clássico argumento do serviço militar obrigatório.


Como já colocamos neste post:


As mulheres sempre lutaram para fazer parte das forças armadas, espaço esse que sempre foi um "clube do bolinha", afinal, guerra não é "coisa de mulher". Os Colégios Militares, por exemplo, só foram aceitar mulheres com o advento da Constituição Federal de 1988.


Também só depois de 1980 que as mulheres puderam integrar as forças armadas no Brasil, em funções administrativas. Então, isso nunca foi uma questão das mulheres não quererem servir, elas simplesmente não podiam servir. E esse é um lado repressor do machismo aos homens: se o homem tem que ser forte, protetor, caberia a ele, então, servir à pátria e arriscar sua vida em combate.


Sorry, meninos, se o alistamento é obrigatório pra vocês reclame aos homens machistas que decidiram isso.


E ficamos por aqui. Desculpa pelo post demasiadamente longo, mas era necessário pra explicar o teor equivocado das declarações daquele post que anda rolando pelas redes sociais. Ironia das ironias, parece que a página “Fatos Desconhecidos” desconhece muitos fatos.



*A série de posts "FAQ Feminista" busca abordar as dúvidas mais frequentes de iniciantes no feminismo.



(1) Segundo a pesquisa, “embora expressivo, esse contingente não deve ser tomado como o total de pessoas em situação de rua no país: primeiro, porque a pesquisa nacional não englobou as crianças e adolescentes que também vivem nesta situação; e, principalmente, porque se deve considerar que as pesquisas foram realizadas em um conjunto de municípios brasileiros e não em sua totalidade, num período específico”.

(2) São trabalhadores da produção de bens e serviços industriais, (tais como operadores de robôs, de veículos operados e controlados remotamente, condutores de equipamento de elevação e movimentação de cargas etc.

(3) Atividades consistem em serviços relacionados a viagens, trabalhos domésticos, restaurantes e cuidados pessoais, proteção às pessoas e bens e a manutenção da ordem pública, venda de mercadorias em comércio e mercados.


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