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Banalização do Termo Sororidade

  • por Verônica Martz
  • 15 de jan. de 2015
  • 3 min de leitura

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Algo que anda me incomodando muito no feminismo é esse tal de expor mina reproduzindo machismo com o seguinte questionamento: como ter sororidade? Vamos entender isso juntas.


O que nós estamos cansadas de saber no feminismo é que vivemos em um sistema machista, opressor, que aniquila tudo que não se adequa a seus moldes. Estamos cansadas de saber, porém não de lutarmos contra. Não podemos enumerar aqui as opressões que vivemos e sentimos sobre nós, e nossa vivência é um fato. Mas, como disse, isso a gente sabe, estou pingando no molhado. O que quero propor com esse texto é que voltemos um pouquinho no tempo.


Lembra quando reproduzíamos um machismo ferrado ao falarmos que mulher tem que se dar o respeito? “Ué, não quer engravidar, que tome as devidas precauções, que não abra as pernas”, “Nossa, vai sair com essa roupa? Está parecendo uma vadia!”. Vamos fazer uma dinâmica? Fechem os olhos e tentem se lembrar da época em que não conheciam o feminismo, e quando até conheciam, mas achavam que era um movimento de mulheres infelizes e insatisfeitas com a vida. E aí, lembraram? Lembrem-se também do momento em que foram salvas, em que uma mão amiga foi-lhes estendida mostrando-lhes o caminho; de um artigo sobre feminismo lido após aquela manchete de feminicídio que ficou em sua cabeça por dias; e então de quando algo se encaixou e tudo fez sentido: de repente aquelas mulheres não eram mais loucas, insatisfeitas e infelizes, eram guerreiras que lutavam por um bem coletivo.


Então vocês se aprofundaram mais ainda na questão de gênero, ingressaram em grupos feministas, debateram, desconstruiram e conheceram a palavra S O R O R I D A D E. Essa palavra tão foneticamente bonita e de um significado representativo que veio para quebrar totalmente um dos braços mais fortes do patriarcado: a rivalidade entre mulheres. Um dos mais fortes, porque é praticamente um escudo contra o verdadeiro opressor, que faz-nos lutar uma contra as outras enquanto o que tem que ser destruído - esse sistema que estupra mulheres a cada 12 segundos - está mais firme e forte do que nunca.


Mas continuemos... Tentamos desconstruir tudo quanto é problemática e opressão, desde as mais intrínsecas: racismo, classismo, gordofobia, etc, etc, etc. Empoderamo-nos, libertamo-nos e quando estamos finalmente prontas para sermos a mão que resgata outras mulheres reprodutoras de machismo e de tudo que é ruim, simplesmente nos acomodamos no trono do título feminista, apontamos o dedo para as irmãs perdidas lá fora e dizemos: COMO TER SORORIDADE?


Conseguiram captar o quanto é irritante e incômodo? Esta frase está claramente dizendo que ainda há resquícios de rivalidade feminina até dentro do feminismo. E lembra quando disse que esse é um dos braços mais fortes do patriarcado? Então, por isso mesmo é o mais difícil de desconstruir, mas não impossível. Afinal, se fosse assim, feminismo pra quê?


Passada a fase da supremacia de mulher sobre mulher, agora vamos para a outra faceta mais oculta e sombria do que sororidade está se tornando. Primeiramente, meu conceito de sororidade é: união de mulheres contra o patriarcado, tática de luta contra a rivalidade feminina. Mantém a unidade de movimento, mas não iguala opressão e sofrimento. Partindo do principio de interseccionalidade, em que opressões se somam, nem todas as mulheres sofrem apenas por opressão de gênero. Por isso, mesmo que oprimidas, mulheres oprimem outras mulheres.


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E aí é que entra a linda da sororidade novamente, porém não mais na pureza de seu conceito e sim como a arma silenciadora mais dolorosa de todos os tempos, que promove destruição do movimento de dentro pra fora. Porque em espaços que temos que ser contempladas por completo, nos é cobrado sentimento de irmandade com opressor - e que esteja bem entendido que o opressor a que me direciono é mulher branca, cis, hétero, de classe média/rica. Não se pode cobrar/obrigar irmandade de uma mulher negra e periférica, por uma branca rica, e nem de uma trans com uma cis, porque não se exige irmandade de oprimide com opressor. E sou muito firme em afirmar que até falta de sororidade é uma reação de oprimide, ou seja, é totalmente legítimo.


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Volto a afirmar meu posicionamento de que sororidade é para unidade de movimento e tática de luta contra rivalidade entre mulheres ao falarmos de opressão de gênero. Confesso que ando muito cética quanto ao rumo do movimento com a banalização que essa palavra vem sofrendo. Sororidade nunca foi passar mão na cabeça ou a barra da saia da mãe.











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